JOÃO PEREIRA COUTINHO
Testemunhas de um crime
O que os colegas não sabiam é que, desde a adolescência, Emma sofria de distúrbios alimentares graves, que a conduziram a uma anorexia severa. Agora, aos 32, Emma deixou de se alimentar e expressou seu desejo de morrer. Acabar com o tormento é para ela mais importante do que continuar com uma vida que, aos seus olhos, perdeu o valor. E os pais de Emma? Os pais concordam. Sim, eles gostariam que a filha tivesse uma vida normal, uma família, umaprofissão, que morresse um dia, na velhice, rodeada por netos ou bisnetos. Mas a realidade é outra: a filha sofre há vários anos. De forma atroz. Respeitar seu desejo de morte é, talvez, o gesto mais caridoso daqueles que a amam. A história descrita não é invenção minha. Foi levada perante a Justiça inglesa recentemente -e o juiz responsável pelo caso, Peter Jackson, decidiu: Emma será alimentada à força, mesmo que isso signifique imobilização física e sedação. Hoje, Emma pode olhar para a sua vida e não encontrar qualquer valor ou propósito. Mas um dia, recuperada psicologicamente, a perspectiva de Emma pode ser outra. Claro que o juiz sabe que, mesmo com alimentação forçada, as hipóteses de sobrevivência de Emma são reduzidas: meses seguidos de quase jejum completo deixaram o seu organismo em estado deplorável. Mas é preciso não desistir, diz o juiz. Mesmo contra a vontade da própria moça, pois só a morte é irreversível. Eis a história que tem comovido e dividido a sociedade inglesa. Os argumentos de ambos os lados são conhecidos: há quem aplauda o juiz pela "decisão mais difícil de uma carreira" (palavras do próprio). E há quem condene a sua sentença abusiva: a autonomia do sujeito, em matéria médica, é soberana. Eu devo poder recusar os tratamentos que bem entender mesmo que isso resulte em minha morte. Entendo todos os argumentos. Teoricamente, e de acordo com as circunstâncias, sou capaz de simpatizar com ambos. Mas existe um terceiro elemento que paira sobre o caso e que, a meu ver, praticamente o decide. Esse terceiro elemento somos nós. Nós, testemunhas potenciais da autodestruição de um ser humano. Nós, testemunhas silenciosas dessa autodestruição. Anos atrás, o ensaísta e psiquiatra Anthony Daniels, nome verdadeiro do autor britânico Theodore Dalrymple, publicou na revista "The New Criterion" texto sobre as implicações éticas das diferentes formas de "morte assistida" ("Do We Own Our Lives?", fevereiro de 2009). Por diversas vezes já me referi a esse texto aqui. Retorno a ele sem hesitar. É um texto primoroso porque oferece uma comparação primorosa: se alguém decide saltar de uma ponte, o gesto é autônomo, pessoal -e, palavra decisiva, solitário. Nada a fazer, tudo a lamentar. Mas nenhuma pessoa saltará de uma ponte se eu estiver passando por ela e puder evitar o ato. Nesse momento agônico, a infeliz criatura pode espumar e espernear. Ou, inversamente, pode até dissertar com propriedade e inteligência sobre sua vida miserável, desprovida de rumo ou sentido. Nada disso me convence a largá-la. Qualquer um pode cometer violência sobre si próprio. Não existe qualquer legitimidade para que a violência de terceiros sobre eles próprios me seja imposta também. Como conclui Anthony Daniels no ensaio, a vida só nos pertence até certo ponto. Mas ela é também o resultado da teia de afetos, ligações e obrigações que estabelecemos uns com os outros. Emma, 32 anos, ex-estudante de medicina, podia ter seguido outro caminho. Podia ter procurado uma cabana no fim do mundo para se despedir do seu calvário. Longe dos nossos olhos -e, tristemente, com o conhecimento e a compreensão de seus pais. A partir do momento em que o seu caso é trazido perante a comunidade, ele deixa de ser apenas um caso pessoal e isolado. Passa a ser também a medida do que somos enquanto civilização. Se a Justiça inglesa tivesse permitido que um doente psiquiátrico morresse em seus braços, desconfio que seria a sociedade do país a precisar de tratamento intensivo. |
Este é o blog da Profa Rose Prado, uma mulher que deu a vida à educação.. ( cof cof cof)
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segunda-feira, 25 de junho de 2012
PROPOSTA NOVA: EMA
domingo, 17 de junho de 2012
sábado, 16 de junho de 2012
Proposta de redação UFTM 2011
Leia os textos.
Texto I
Seja gentil no trânsito, que o trânsito retribui.
E se você ouvisse uma música, em vez de buzinar? Ou apontasse o erro, em vez de xingar? Gentileza gera gentileza e se multiplica. Experimente. O melhor jeito de se acostumar com ela é se pondo no lugar do outro. Se alguém tomar aquela vaga de estacionamento que você estava esperando, releve; caso um motorista não deixe você ultrapassar, tolere; se outro vier disposto a brigar, não dê brechas para continuar a discussão.
Quando você muda, a cidade muda, e isso começa dentro de cada um. As pessoas são como espelhos quando se trata de atitude, um gesto bom que você faça, volta com a mesma bondade. Ou seja, ganha você e quem está ao seu lado no farol. Entre para o movimento Trânsito + gentil, seu dia-a-dia agradece.
(www.transitomaisgentil.com.br)
Texto II
No Brasil, mais de 40 mil pessoas morrem por ano vítimas da violência no trânsito, metade delas em decorrência de acidentes causados por embriaguez. Para tentar diminuir esse número, o governo brasileiro tomou medidas mais severas: a partir de junho de 2008, é considerado crime conduzir veículos com qualquer teor de álcool no organismo. A infração será considerada gravíssima, com suspensão da habilitação por um ano e multa. Em caso de acidentes com morte, o motorista embriagado será julgado por homicídio doloso (com intenção). Já na cidadezinha de Bohmte, na Alemanha, a metodologia para a redução de acidentes surpreende: foram abolidos completamente os semáforos e placas de trânsito, na esperança que os motoristas prestem mais atenção uns nos outros e menos nas regras previamente impostas. Como resultado, a cidade - que registrava cerca de sete acidentes graves ao mês - não registrou um único acidente, grave ou leve, desde a nova medida.
(http://jornaldedebates.uol.com.br. Adaptado.)
Os textos permitem pensar quais desdobramentos uma campanha como a apresentada – Trânsito + gentil – pode ter para o comportamento das pessoas na sociedade brasileira, para muito além do objetivo imediato e restrito ao trânsito. Com base nessa referência, elabore um texto dissertativo, em norma-padrão da língua portuguesa, abordando a questão:
Educação no trânsito: exercício de poder ou de cidadania
sábado, 9 de junho de 2012
As raízes da corrupção no Brasil
Você está em Economia
EVERARDO, MACIEL, CONSULTOR TRIBUTÁRIO, FOI SECRETÁRIO DA RECEITA, FEDERAL (1995-2002) - O Estado de S.Paulo
Seria fora de propósito analisar as causas da corrupção no Brasil em um despretensioso artigo. Tenciono, tão somente, explorar algumas ideias que possam servir de subsídio para uma reflexão mais percuciente sobre o tema.
Consideradas as múltiplas causas da corrupção, tem destaque a impunidade associada à morosidade dos processos, que maltrata os inocentes e faz a alegria dos culpados. A despeito da obviedade dessa causa, não se pode esquecer de que a matéria ainda carece de um debate aprofundado, que permita encontrar saídas que conciliem agilidade processual com direito à ampla defesa, para não falar de um maior incentivo aos meios alternativos para solução de litígios, a exemplo da mediação e da arbitragem. A única certeza é de que a legislação processual necessita de mudanças.
A impunidade assume grande importância na execução fiscal. Hoje, os débitos inscritos na Dívida Ativa da União ultrapassam a espantosa soma de R$ 1 trilhão. Evidentemente, há algo errado nesse processo. Tal fato, combinado com recorrentes anistias e remissões - instrumentos que só excepcionalmente deveriam ser utilizados -, constitui generoso estímulo ao sonegador e desrespeito ao bom contribuinte.
A ineficácia da execução fiscal, entretanto, não pode servir de pretexto para a adoção de medidas desproporcionais, como a penhora administrativa ou a publicação de listas de devedores do Fisco.
Penhora administrativa significa excluir a medida da apreciação judicial, conferindo extravagantes poderes ao Fisco. Já a publicação de listas de devedores corresponde apenas à utilização de um meio vexatório para cobrança fiscal, cujo respaldo moral claudica, porque não se faz acompanhar da lista de precatórios, nomeando os credores da Fazenda Pública.
A execução fiscal demanda mais inteligência e menos músculos. Não funciona, porque os processos inscritos em Dívida Ativa não são adequadamente preparados, no pressuposto de que os magistrados responsáveis pelas varas de execução fiscal supram as deficiências originais. Aqui não se exploram as escandalosas situações de imputação de responsabilidade, sem observância do devido processo legal, princípio constitucional consagrado universalmente.
Eleições são fontes inesgotáveis de corrupção. Há os que pensam que a questão pode ser resolvida por mudança no sistema eleitoral e no financiamento das campanhas. Não creio que seja assim.
É necessário perquirir a razão pela qual há um aviltamento moral no Congresso Nacional. Em boa medida, a explicação se encontra na degradante subtração de sua missão constitucional de legislar e fiscalizar, em virtude, sobretudo, do abuso das medidas provisórias.
A atividade congressual passou, por consequência, a centrar-se nas inúmeras barganhas para tramitação de medidas provisórias e outras propostas legislativas oriundas do Poder Executivo, tendo como foco a aprovação de emendas à proposta orçamentária, classificáveis em geral como transferências voluntárias a Estados e municípios, ou demandas por fisiologismo ou aparelhamento. Essas práticas deságuam, quase sempre, em corrupção.
"Anões do orçamento", "mensalão", "sanguessugas", "vampiros", comissões pagas para liberações de verbas ou licenciamento de atividades, etc., são apenas nomes distintos para fenômenos decorrentes daquelas práticas.
Mais recentemente, um conhecido parlamentar mineiro, segundo o jornal O Globo (coluna Panorama Político de 8/12/2011), pronunciou esta pérola do cinismo impune: "O governo nos pede milhões para a DRU e nos dá uma merreca. Ninguém é capacho".
O espantoso é que o autor dessa indecorosa frase não foi submetido a uma apuração por falta de decoro ou nem sequer foi objeto de uma leve indignação.
Enquanto permanecerem as causas que geram essa modalidade de corrupção, é somente esperar pelo próximo escândalo, que será mitigado por uma discreta investigação de Comissões de Ética ou demissão de alguma autoridade.
Enfim, todos confiam, como proclamou um dos investigados no escândalo do mensalão, que o tempo se encarregará de apagar de nossa complacente memória a história da corrupção e seus personagens.
É simplismo, portanto, atribuir as deficiências do Poder Legislativo meramente ao sistema eleitoral ou ao financiamento de campanhas.
Outras hipóteses de corrupção poderiam ser exploradas. De tudo, todavia, resta a conclusão de que vivemos uma perturbante crise axiológica, em que nossos valores estão sendo jogados ao rés do chão.
Quando se aceitam, com naturalidade, pretensas teses como "recursos não contabilizados", "caixa 2 de campanha" ou desvios éticos para assegurar a governabilidade, é inevitável, também, que a sociedade passe a aceitar, sem repulsa, o governante que "rouba, mas faz".
A eliminação do "ovo da serpente" da corrupção não é tarefa fácil, porque reclama lideranças políticas capazes de mobilizar a sociedade para esse objetivo, em bases estritamente democráticas. A reversão dessa crise moral, entretanto, é condição indispensável para a construção do futuro do País.
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Os Estados devem permitir o consumo de bebida alcoólica nos estádios na Copa?
Andrea Matarazzo
NÃO
Copa sim, mas não a qualquer custo
Todo grande evento que traga visibilidade ao país é bem vindo. Isso, evidentemente, se aplica à Copa do Mundo de 2014.
No entanto, o Mundial de futebol parece ter entrado no rol dos temas cujo debate é interditado, já que o evento se transformou numa panaceia para todos os males brasileiros.
É necessário que a Copa aconteça, mas não a qualquer custo -especialmente, não ao custo de leis brasileiras que se firmaram pelos bons resultados.
A Lei Geral da Copa cria situações de exceção criadas para permitir que o público visitante goze de serviços vetados aos brasileiros em todos os outros jogos de futebol realizados país afora.
Refiro-me especialmente à permissão para venda de bebidas alcoólicas nos nossos estádios durante o mundial.
Em vários estados da Federação, existem leis locais proibindo a comercialização de álcool dentro e no entorno das praças desportivas. Em São Paulo, a regra vale desde 1996.
Onde quer que tenha sido implantada, essa norma contribuiu de forma decisiva para a redução dos índices de violência dentro dos estádios de futebol.
Tanto é assim que, desde 2007, a Confederação Brasileira de Futebol resolveu instituir a prática em todos os jogos do Campeonato Brasileiro. Em 2010, o próprio Estatuto do Torcedor foi alterado para incluir a proibição ao porte de álcool nos locais de jogos.
Em São Paulo, graças à medida, o número de ocorrências policiais caiu 90% em dez anos. Em Minas, a redução foi de 75%, em um prazo ainda menor.
Os dados são do relatório apresentado pelo Ministério Público à Comissão Especial da Câmara dos Deputados que avaliou a Lei da Copa. Como era de se esperar, o MP requisitou que a proibição à venda de bebidas fosse mantida.
Há quem defenda que a proibição de bebida alcoólica seja suspensa argumentando que o público da Copa da Mundo é outro, formado por turistas estrangeiros e pessoas de maior poder aquisitivo.
É como afirmar que os ricos e os visitantes de outros países são imunes aos efeitos do álcool.
Quem defende essa posição parece esquecer que a violência nos estádios de futebol não é exclusividade brasileira -que o digam todo o histórico da Inglaterra com os hooligans e a morte, no mês passado, de 75 torcedores em um estádio do Egito.
No meio disso tudo, o governo federal se mostra inábil e ausente.
Primeiro, desconsiderou a autonomia dos Estados e assinou um acordo com a Fifa que garantia a venda de bebidas nos jogos, sem nenhum tipo de diálogo.
Agora, optou pela saída mais fácil e resolveu se omitir: deixou esse ponto em aberto no texto da Lei Geral e jogou no colo dos Estados e municípios o ônus de um embate desigual com a Fifa -embate que, na prática, já está definido a favor de tal federação.
Aos nossos Estados, restará pouco espaço para negociação, algo que é lamentável.
ANDREA MATARAZZO, 55, é
secretário de Estado da Cultura. Foi secretário de Coordenação das
Subprefeituras de São Paulo
Pedro Trengrouse
SIM
Futebol, cerveja e futebol com cerveja
O
brasileiro tem três paixões: futebol, cerveja e futebol com cerveja.
Uma em cada quatro cervejas consumidas no país, segundo a FGV, tem alguma relação com o futebol, seja pelos torcedores assistindo aos jogos ou na sagrada pelada com amigos. A indústria da cerveja é parte importante de todo o arranjo produtivo do futebol. Cada R$ 100 milhões consumidos em cerveja geram R$ 338 milhões na economia nacional.
O debate suscitado sobre o consumo de cerveja nos estádios não pode, portanto, se resumir simplesmente à Copa.
Não há nenhuma evidência que comprove qualquer relação entre cerveja e violência, muito pelo contrário. Um estudo feito no Mineirão evidencia que as ocorrências relacionadas às bebidas alcoólicas aumentaram 15% depois da restrição ao consumo de cerveja no estádio. Houve também um aumento sensível das ocorrências envolvendo o porte de drogas e o consumo de álcool ilegal.
Na Inglaterra, onde as autoridades acreditaram que a proibição da cerveja diminuiria a violência, descobriu-se após 15 anos que os torcedores aumentaram a quantidade de álcool antes das partidas e passaram a ingerir bebidas mais fortes, reunindo-se em bares dos arredores, aumentando a chance de encontro com rivais e deixando para entrar no estádio em cima da hora, algo que dificulta muito todo planejamento de segurança pública.
Uma pesquisa da FGV revela que apenas 5% da população pensa que o consumo de bebida alcoólica no estádio tem alguma relação com violência. Os principais fatores que a influenciam são: grupos fanáticos de torcedores, decisões de árbitros, declarações de jogadores, treinadores e dirigentes, notícias esportivas, infraestrutura inadequada dos estádios, falta de controle policial e de preparo dos agentes de segurança pública no tratamento ao torcedor.
É importante lembrar que, no Brasil, a restrição ao consumo de cerveja nos estádios não tem amparo em nenhuma lei federal. O Estatuto do Torcedor, que precisa ser melhor regulamentado, não faz menção específica à cerveja nem proíbe expressamente o seu consumo.
Embora alguns Estados possuam legislação sobre o assunto, foi a CBF quem proibiu a venda de bebidas alcoólicas em partidas oficiais de futebol, com base em um protocolo de intenções celebrado com o Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais do Ministério Público.
O curioso é que uma das razões citadas para justificar a proibição é uma regra da Fifa. Mas ela já foi modificada justamente para permitir o consumo de cerveja nos estádios, respeitando a cultura de cada país.
Não há qualquer restrição à liberação de cerveja nos estádios brasileiros além de algumas leis estaduais que precisam ser revistas nas respectivas assembleias e de um ato administrativo discricionário da CBF, que pode e deve ser revogado pelo novo presidente com uma simples canetada.
Isso deve acontecer, pois não há qualquer razão para restringir o consumo de cerveja nos estádios, na Copa do Mundo e em todos os jogos do futebol brasileiro.
Uma em cada quatro cervejas consumidas no país, segundo a FGV, tem alguma relação com o futebol, seja pelos torcedores assistindo aos jogos ou na sagrada pelada com amigos. A indústria da cerveja é parte importante de todo o arranjo produtivo do futebol. Cada R$ 100 milhões consumidos em cerveja geram R$ 338 milhões na economia nacional.
O debate suscitado sobre o consumo de cerveja nos estádios não pode, portanto, se resumir simplesmente à Copa.
Não há nenhuma evidência que comprove qualquer relação entre cerveja e violência, muito pelo contrário. Um estudo feito no Mineirão evidencia que as ocorrências relacionadas às bebidas alcoólicas aumentaram 15% depois da restrição ao consumo de cerveja no estádio. Houve também um aumento sensível das ocorrências envolvendo o porte de drogas e o consumo de álcool ilegal.
Na Inglaterra, onde as autoridades acreditaram que a proibição da cerveja diminuiria a violência, descobriu-se após 15 anos que os torcedores aumentaram a quantidade de álcool antes das partidas e passaram a ingerir bebidas mais fortes, reunindo-se em bares dos arredores, aumentando a chance de encontro com rivais e deixando para entrar no estádio em cima da hora, algo que dificulta muito todo planejamento de segurança pública.
Uma pesquisa da FGV revela que apenas 5% da população pensa que o consumo de bebida alcoólica no estádio tem alguma relação com violência. Os principais fatores que a influenciam são: grupos fanáticos de torcedores, decisões de árbitros, declarações de jogadores, treinadores e dirigentes, notícias esportivas, infraestrutura inadequada dos estádios, falta de controle policial e de preparo dos agentes de segurança pública no tratamento ao torcedor.
É importante lembrar que, no Brasil, a restrição ao consumo de cerveja nos estádios não tem amparo em nenhuma lei federal. O Estatuto do Torcedor, que precisa ser melhor regulamentado, não faz menção específica à cerveja nem proíbe expressamente o seu consumo.
Embora alguns Estados possuam legislação sobre o assunto, foi a CBF quem proibiu a venda de bebidas alcoólicas em partidas oficiais de futebol, com base em um protocolo de intenções celebrado com o Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais do Ministério Público.
O curioso é que uma das razões citadas para justificar a proibição é uma regra da Fifa. Mas ela já foi modificada justamente para permitir o consumo de cerveja nos estádios, respeitando a cultura de cada país.
Não há qualquer restrição à liberação de cerveja nos estádios brasileiros além de algumas leis estaduais que precisam ser revistas nas respectivas assembleias e de um ato administrativo discricionário da CBF, que pode e deve ser revogado pelo novo presidente com uma simples canetada.
Isso deve acontecer, pois não há qualquer razão para restringir o consumo de cerveja nos estádios, na Copa do Mundo e em todos os jogos do futebol brasileiro.
PEDRO TRENGROUSE, 33, é
advogado, consultor da ONU na Copa e coordenador de projetos da FGV
terça-feira, 5 de junho de 2012
Escreva qual é a tese e os argumentos. Use só um parágrafo.
A Maldade como Poderoso Elemento do Progresso HumanoOs sentimentos fixos e de forma constante qualificados de paixões constituem, também, possantes factores de opiniões, de crenças e, por conseguinte, de conduta. Certas paixões contagiosas tornam-se, por esse motivo, facilmente colectivas. A sua acção é, então, irresistível. Elas precipitaram muitos povos uns contra os outros nas diversas fases da história. As paixões podem excitar a nossa actividade, porém, alteram, as mais das vezes, a justeza das opiniões, impedindo de ver as coisas como realmente são e de compreender a sua génese. Se nos livros de história são abundantes os erros, é porque, na maior parte dos casos, as paixões ditam a sua narrativa. Não se citaria, penso eu, um historiador que haja relatado imparcialmente a Revolução.
O papel das paixões é, como vemos, muito considerável nas nossas opiniões e, por conseguinte, na génese dos acontecimentos. Não são, infelizmente, as mais recomendáveis que têm exercido maior acção. Kant reconheceu a grande força social das piores paixões. A maldade é, no seu juízo, um poderoso elemento do progresso humano. Parece, infelizmente, muito certo que, se os homens tivessem seguido o preceito do Evangelho “Amai-vos uns aos outros”, ao invés de obedecerem ao da Natureza, que os incita a se destruírem mutuamente, a humanidade vegetaria ainda no fundo das primitivas cavernas.
Gustave Le Bon, in 'As Opiniões e as Crenças'
Tema(s): Maldade Progresso http://www.citador.pt/textos/a-maldade-como-poderoso-elemento-do-progresso-humano-gustave-le-bon
O papel das paixões é, como vemos, muito considerável nas nossas opiniões e, por conseguinte, na génese dos acontecimentos. Não são, infelizmente, as mais recomendáveis que têm exercido maior acção. Kant reconheceu a grande força social das piores paixões. A maldade é, no seu juízo, um poderoso elemento do progresso humano. Parece, infelizmente, muito certo que, se os homens tivessem seguido o preceito do Evangelho “Amai-vos uns aos outros”, ao invés de obedecerem ao da Natureza, que os incita a se destruírem mutuamente, a humanidade vegetaria ainda no fundo das primitivas cavernas.
Gustave Le Bon, in 'As Opiniões e as Crenças'
segunda-feira, 4 de junho de 2012
Que país é este? - Roberto Giannetti da Fonseca
RESUMA ESTE TEXTO. USE NO MÁXIMO 15 LINHAS. UM PARÁGRAFO APENAS.
ESTE É UM ÓTIMO EXERCÍCIO.
ESTE É UM ÓTIMO EXERCÍCIO.
Vou lançar mão como título
deste artigo, dessa expressão bem conhecida dos brasileiros, e muito usada
quando indignados e perplexos com fatos sucedidos em nossa nação,
perguntamo-nos a nós mesmos: "Que país é este?"
Dias atrás, proferiu uma palestra na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), um dos maiores especialistas internacionais em política industrial, o sul-coreano Ha-Joon Chang, professor de economia da Universidade de Cambridge na Inglaterra. Sendo ele um profundo conhecedor das políticas públicas e dos ambientes de negócio nos mais variados países do mundo, apresentou aos empresários brasileiros uma visão comparativa nas últimas décadas do desempenho econômico e social entre diversas economias desenvolvidas e em desenvolvimento. Para nossa tristeza, mas sem nenhuma surpresa, verifica-se como o Brasil perdeu e continua perdendo posição em relação a vários outros países emergentes, especialmente asiáticos, que têm praticado a correta política de estimular investimentos e seus empreendedores. Lá não hesitam em publicamente prestigiar os empreendedores, aqueles que se lançam ao risco de criar riqueza, empregos, renda, valor adicionado, inovação tecnológica, em troca do reconhecimento material e institucional para seu empreendimento.
Recentemente em reunião com um seleto grupo de empresários no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff lançou mão de uma outra famosa expressão cunhada nos anos 30 pelo famoso economista inglês John Maynard Keynes sobre a necessidade de "despertar o espírito animal" dos empreendedores brasileiros, para que invistam mais, criem mais empresas e empregos no país, única forma de promover o verdadeiro e sustentável desenvolvimento econômico e social que tanto desejamos. Pois bem, foi exatamente por meio do estímulo a esse espírito empreendedor que nações como a Coreia do Sul, que até os anos 70 apresentavam uma renda per capita menor que a brasileira, hoje tem mais que o dobro da nossa, e suas empresas multinacionais, seus carros, produtos eletrônicos e equipamentos industriais se encontram espalhados pelos quatro cantos do mundo.
Seremos capazes de mudar o hostil ambiente de negócios e promover um crescimento de forma sustentável?
Sabedor da potencialidade de nossa economia, da qualidade de nossos empreendedores, da abundante disponibilidade dos fatores de produção (recursos naturais, mão de obra, energia, etc.), e da dimensão de nosso mercado interno, pergunta o professor Chang, por que o Brasil continua sendo eternamente o país do futuro? Diplomático, foi discreto nas críticas aos equívocos de nossa política econômica nos últimos 30 a 40 anos, mas despertou em nós, empresários, o saudável sentimento da autocrítica que nos leva então a perguntar:
Que país é este que pratica já por mais de 15 anos os juros mais altos do mundo mesmo estando sua economia hoje em dia classificada em grau de investimento e com razoável estabilidade política e econômica?
Que país é este no qual a taxa de câmbio apreciada sufoca a competitividade das indústrias, e leva sua economia a um precoce e acelerado processo de desindustrialização?
Que país é este na qual a excessiva carga tributária e a péssima estrutura de tributos e impostos, resultam num ambiente de permanente litígio entre o fisco e os contribuintes, além de um ambiente de insegurança jurídica, por conta das frequentes mudanças de leis, normas, e regras?
Que país é este onde a Justiça demora mais de uma década para concluir o julgamento de um processo, e que em muitas vezes sem o menor critério, determina em primeira instância a desconsideração da pessoa jurídica litigante e permite a penhora de bens de pessoas físicas e jurídicas que remotamente tem a ver com a dívida fiscal, trabalhista, ou financeira em questão?
Que país é este no qual governadores eleitos pelo povo, defendem publicamente incentivos tributários inconstitucionais às importações por meio de seus Estados, mesmo sabendo que, por conta dessa ganância fiscal, estarão levando a eliminação de empresas e empregos industriais nos seus Estados vizinhos?
Que país é este que mais pune do que incentiva as atividades de exportação, inovação tecnológica e de investimento produtivo, pois tributa o investimento na origem, ao invés de estimulá-lo com isenções e facilidades, que reconhece o resíduo tributário nas exportações, mas pouco ou nada faz para ressarcir aos exportadores os créditos tributários acumulados ao longo da cadeia produtiva exportadora?
Que país é este que, apesar de ser hoje em dia uma das maiores economias do planeta, ainda oferece um baixíssimo nível de escolaridade à sua população, e no qual 40% de suas residências ainda não têm acesso aos serviços de saneamento básico de água e esgoto?
Muitas outras perguntas da mesma espécie poderiam ser formuladas caso o espaço permitisse, mas poderíamos responder a todas elas com a mesma decepção: este país infelizmente é o Brasil. Seremos nós capazes de mudar a curto prazo esse hostil ambiente de negócios e assim promover nosso crescimento econômico de forma saudável e sustentável? Cabe a cada um de nós, responsáveis pela parte e pelo todo do que fazemos no dia a dia, responder a esta última pergunta. A próxima geração de brasileiros poderia não mais pertencer ao país do futuro, mas sim ao país do presente.
Roberto Giannetti da Fonseca é economista e empresário, presidente da Kaduna Consultoria e diretor-titular de Relações Internacionais e de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Dias atrás, proferiu uma palestra na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), um dos maiores especialistas internacionais em política industrial, o sul-coreano Ha-Joon Chang, professor de economia da Universidade de Cambridge na Inglaterra. Sendo ele um profundo conhecedor das políticas públicas e dos ambientes de negócio nos mais variados países do mundo, apresentou aos empresários brasileiros uma visão comparativa nas últimas décadas do desempenho econômico e social entre diversas economias desenvolvidas e em desenvolvimento. Para nossa tristeza, mas sem nenhuma surpresa, verifica-se como o Brasil perdeu e continua perdendo posição em relação a vários outros países emergentes, especialmente asiáticos, que têm praticado a correta política de estimular investimentos e seus empreendedores. Lá não hesitam em publicamente prestigiar os empreendedores, aqueles que se lançam ao risco de criar riqueza, empregos, renda, valor adicionado, inovação tecnológica, em troca do reconhecimento material e institucional para seu empreendimento.
Recentemente em reunião com um seleto grupo de empresários no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff lançou mão de uma outra famosa expressão cunhada nos anos 30 pelo famoso economista inglês John Maynard Keynes sobre a necessidade de "despertar o espírito animal" dos empreendedores brasileiros, para que invistam mais, criem mais empresas e empregos no país, única forma de promover o verdadeiro e sustentável desenvolvimento econômico e social que tanto desejamos. Pois bem, foi exatamente por meio do estímulo a esse espírito empreendedor que nações como a Coreia do Sul, que até os anos 70 apresentavam uma renda per capita menor que a brasileira, hoje tem mais que o dobro da nossa, e suas empresas multinacionais, seus carros, produtos eletrônicos e equipamentos industriais se encontram espalhados pelos quatro cantos do mundo.
Seremos capazes de mudar o hostil ambiente de negócios e promover um crescimento de forma sustentável?
Sabedor da potencialidade de nossa economia, da qualidade de nossos empreendedores, da abundante disponibilidade dos fatores de produção (recursos naturais, mão de obra, energia, etc.), e da dimensão de nosso mercado interno, pergunta o professor Chang, por que o Brasil continua sendo eternamente o país do futuro? Diplomático, foi discreto nas críticas aos equívocos de nossa política econômica nos últimos 30 a 40 anos, mas despertou em nós, empresários, o saudável sentimento da autocrítica que nos leva então a perguntar:
Que país é este que pratica já por mais de 15 anos os juros mais altos do mundo mesmo estando sua economia hoje em dia classificada em grau de investimento e com razoável estabilidade política e econômica?
Que país é este no qual a taxa de câmbio apreciada sufoca a competitividade das indústrias, e leva sua economia a um precoce e acelerado processo de desindustrialização?
Que país é este na qual a excessiva carga tributária e a péssima estrutura de tributos e impostos, resultam num ambiente de permanente litígio entre o fisco e os contribuintes, além de um ambiente de insegurança jurídica, por conta das frequentes mudanças de leis, normas, e regras?
Que país é este onde a Justiça demora mais de uma década para concluir o julgamento de um processo, e que em muitas vezes sem o menor critério, determina em primeira instância a desconsideração da pessoa jurídica litigante e permite a penhora de bens de pessoas físicas e jurídicas que remotamente tem a ver com a dívida fiscal, trabalhista, ou financeira em questão?
Que país é este no qual governadores eleitos pelo povo, defendem publicamente incentivos tributários inconstitucionais às importações por meio de seus Estados, mesmo sabendo que, por conta dessa ganância fiscal, estarão levando a eliminação de empresas e empregos industriais nos seus Estados vizinhos?
Que país é este que mais pune do que incentiva as atividades de exportação, inovação tecnológica e de investimento produtivo, pois tributa o investimento na origem, ao invés de estimulá-lo com isenções e facilidades, que reconhece o resíduo tributário nas exportações, mas pouco ou nada faz para ressarcir aos exportadores os créditos tributários acumulados ao longo da cadeia produtiva exportadora?
Que país é este que, apesar de ser hoje em dia uma das maiores economias do planeta, ainda oferece um baixíssimo nível de escolaridade à sua população, e no qual 40% de suas residências ainda não têm acesso aos serviços de saneamento básico de água e esgoto?
Muitas outras perguntas da mesma espécie poderiam ser formuladas caso o espaço permitisse, mas poderíamos responder a todas elas com a mesma decepção: este país infelizmente é o Brasil. Seremos nós capazes de mudar a curto prazo esse hostil ambiente de negócios e assim promover nosso crescimento econômico de forma saudável e sustentável? Cabe a cada um de nós, responsáveis pela parte e pelo todo do que fazemos no dia a dia, responder a esta última pergunta. A próxima geração de brasileiros poderia não mais pertencer ao país do futuro, mas sim ao país do presente.
Roberto Giannetti da Fonseca é economista e empresário, presidente da Kaduna Consultoria e diretor-titular de Relações Internacionais e de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Valor
Econômico
04/06/2012
domingo, 3 de junho de 2012
PROPOSTA. TEMA, EDUCAÇÃO DOMICILIAR
Mas tenho minhas razões e não é por outro motivo - esse de odiar escolas - que dou aula particular faz vinte e seis anos! Eu sou formada, sim,mas sempre preferi ensinar em casa. Por quê?
Leia os textos e escreva uma carta dissertativa dirigida aos pais das crianças que estão estudando em casa. Poderá apoiá-los ou não. Mas o importante é que você tenha uma tese clara.
Já faz algum tempo participo deste site
http://ensinodomestico.ning.com/profile/rosemarinhoprado
LEIA AQUI
MINHA CASA, MINHA ESCOLA Cresce o número de famílias que tiram
os filhos da sala de aula para educá-los no lar. Apesar de processos judiciais,
casais temem bullying e desvirtuamento de valores
Alguns pais ainda estão
tímidos, preferem não se identificar, temem ser processados judicialmente.
Outros se expõem sem medo, convictos da decisão que tomaram. Em Minas Gerais, é
cada vez maior o número de famílias que rejeitam as escolas e assumem em casa a
educação dos filhos. Há cerca de 200 no estado, segundo a Associação Nacional
de Educação Domiciliar (Aned). E pelo menos nove estão sendo processadas pelo
Ministério Público pelo crime de abandono intelectual. Enquanto isso, o assunto
já é discutido no Congresso Nacional, por meio de projeto de lei e de uma
frente parlamentar.
Um dos principais divulgadores da educação domiciliar (homeschooling, em inglês) no estado é o empresário Cléber Nunes. Em 2008, ele e a mulher, Bernadeth, foram condenados a pagar multa de 12 salários mínimos pelo descumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente, cujo artigo 55 determina que “os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino”. Dois anos depois, o casal sofreu nova condenação, dessa vez com base no artigo 246 do Código Civil, que descreve como abandono intelectual “deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar”.
Apesar dos revezes judiciais, Cléber e Bernadeth mantiveram a decisão tomada em 2005, quando os filhos Jônatas e Davi, depois de concluir a 5ª e a 6ª série do ensino fundamental, passaram a estudar em casa. A ideia partiu de Cléber, receoso das “tatuagens” que a escola gravaria nos garotos. “Muitas influências sofridas pelos estudantes são irreversíveis. O que está sendo tatuado na mente deles os pais não veem e não conseguem tirar”, explica.
Cléber estava preocupado com os “valores” aprendidos na escola, diferentes e, até, contrários aos princípios cristãos professados em casa. “O que adiantava dizer que os meninos deveriam respeitar os outros, pedir licença antes de entrar em uma conversa, se na escola viam tudo ao contrário?”, questiona o empresário, de 48 anos. Além disso, queria guiar o desenvolvimento intelectual dos filhos. “O propósito era ensiná-los a usar as ferramentas da aprendizagem, serem autodidatas. A escola não consegue fazer isso”, compara.
No início, Jônatas e Davi passaram por um ano de “desintoxicação”. Assistiam a filmes, liam livros e debatiam com o pai. Em seguida, a tarefa dos meninos era escrever textos argumentativos, expondo suas opiniões. Ao mesmo tempo, os dois se aprofundavam no estudo da língua inglesa e de informática. Com o passar dos anos, foram se tornando mais independentes e, atualmente, cada um faz seu currículo.
“Na escola, você fica mal acostumado. A professora escreve o conteúdo no quadro e você só copia no caderno”, acredita Jônatas, de 18 anos. O mais velho, Davi, de 19, completa: “É como se fosse uma linha de produção, com todos aprendendo as mesmas coisas, no mesmo ritmo”. Eles calculam que, nos primeiros meses deste ano, ganharam mais de R$ 30 mil em concursos na área de informática. A irmã caçula, Ana, de 5, nunca frequentou escola e está sendo alfabetizada por Bernadeth, que abandonou o curso de arquitetura para se dedicar aos filhos. “Ela aprende brincando, sem cobrança”, diz a mãe.
INFLUÊNCIA CRESCENTE Nos últimos anos, o exemplo da família Nunes, que mora em Vargem Alegre, no Vale do Rio Doce, tem sido seguido por outros pais. Em Timóteo, 21 famílias adotaram a educação domiciliar, mais seis em Ipatinga e uma em Coronel Fabriciano. Quem calcula, olhando os nomes dos pais em sua agenda, é Maila Godoy de Souza, de 37 anos. Ex-professora, a dona de casa assumiu no início de 2011 a educação dos dois filhos: a adolescente Mali, de 12, e o garoto Calebe, de 10.
A mais velha estudou até a 4ª série e o caçula, até a 3ª. Diferentemente de Cléber e Bernadeth, Maila e o marido, Marcos Gabriel, de 37, copiam em casa o currículo escolar. Lecionam todas as disciplinas convencionais e fazem avaliações periódicas. Eles consideram o ensino escolar ineficaz, mas a principal razão foi outra. “Hoje, a escola é um ambiente não benéfico para as crianças, sofrem influências que não deveriam, há sensualidade, bullying, tráfico de drogas”, aponta Marcos.
Muitos casais que tiraram os filhos da escola na região também têm em comum serem frequentadores da mesma igreja. Segundo o pastor Carlos Cardoso, que defende a educação domiciliar, a igreja se classifica apenas como cristã. “Não queremos vincular a prática (homeschooling) à religião. Isso pode nos prejudicar, há muita gente preconceituosa”, explica Cléber.
Um dos principais divulgadores da educação domiciliar (homeschooling, em inglês) no estado é o empresário Cléber Nunes. Em 2008, ele e a mulher, Bernadeth, foram condenados a pagar multa de 12 salários mínimos pelo descumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente, cujo artigo 55 determina que “os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino”. Dois anos depois, o casal sofreu nova condenação, dessa vez com base no artigo 246 do Código Civil, que descreve como abandono intelectual “deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar”.
Apesar dos revezes judiciais, Cléber e Bernadeth mantiveram a decisão tomada em 2005, quando os filhos Jônatas e Davi, depois de concluir a 5ª e a 6ª série do ensino fundamental, passaram a estudar em casa. A ideia partiu de Cléber, receoso das “tatuagens” que a escola gravaria nos garotos. “Muitas influências sofridas pelos estudantes são irreversíveis. O que está sendo tatuado na mente deles os pais não veem e não conseguem tirar”, explica.
Cléber estava preocupado com os “valores” aprendidos na escola, diferentes e, até, contrários aos princípios cristãos professados em casa. “O que adiantava dizer que os meninos deveriam respeitar os outros, pedir licença antes de entrar em uma conversa, se na escola viam tudo ao contrário?”, questiona o empresário, de 48 anos. Além disso, queria guiar o desenvolvimento intelectual dos filhos. “O propósito era ensiná-los a usar as ferramentas da aprendizagem, serem autodidatas. A escola não consegue fazer isso”, compara.
No início, Jônatas e Davi passaram por um ano de “desintoxicação”. Assistiam a filmes, liam livros e debatiam com o pai. Em seguida, a tarefa dos meninos era escrever textos argumentativos, expondo suas opiniões. Ao mesmo tempo, os dois se aprofundavam no estudo da língua inglesa e de informática. Com o passar dos anos, foram se tornando mais independentes e, atualmente, cada um faz seu currículo.
“Na escola, você fica mal acostumado. A professora escreve o conteúdo no quadro e você só copia no caderno”, acredita Jônatas, de 18 anos. O mais velho, Davi, de 19, completa: “É como se fosse uma linha de produção, com todos aprendendo as mesmas coisas, no mesmo ritmo”. Eles calculam que, nos primeiros meses deste ano, ganharam mais de R$ 30 mil em concursos na área de informática. A irmã caçula, Ana, de 5, nunca frequentou escola e está sendo alfabetizada por Bernadeth, que abandonou o curso de arquitetura para se dedicar aos filhos. “Ela aprende brincando, sem cobrança”, diz a mãe.
INFLUÊNCIA CRESCENTE Nos últimos anos, o exemplo da família Nunes, que mora em Vargem Alegre, no Vale do Rio Doce, tem sido seguido por outros pais. Em Timóteo, 21 famílias adotaram a educação domiciliar, mais seis em Ipatinga e uma em Coronel Fabriciano. Quem calcula, olhando os nomes dos pais em sua agenda, é Maila Godoy de Souza, de 37 anos. Ex-professora, a dona de casa assumiu no início de 2011 a educação dos dois filhos: a adolescente Mali, de 12, e o garoto Calebe, de 10.
A mais velha estudou até a 4ª série e o caçula, até a 3ª. Diferentemente de Cléber e Bernadeth, Maila e o marido, Marcos Gabriel, de 37, copiam em casa o currículo escolar. Lecionam todas as disciplinas convencionais e fazem avaliações periódicas. Eles consideram o ensino escolar ineficaz, mas a principal razão foi outra. “Hoje, a escola é um ambiente não benéfico para as crianças, sofrem influências que não deveriam, há sensualidade, bullying, tráfico de drogas”, aponta Marcos.
Muitos casais que tiraram os filhos da escola na região também têm em comum serem frequentadores da mesma igreja. Segundo o pastor Carlos Cardoso, que defende a educação domiciliar, a igreja se classifica apenas como cristã. “Não queremos vincular a prática (homeschooling) à religião. Isso pode nos prejudicar, há muita gente preconceituosa”, explica Cléber.
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| PONTO CRíTICO » Você é a favor da educação domiciliar? |
Ricardo Dias
presidente da Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned)
SIM
“A Constituição diz que este é um dever do Estado e da família. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação também diz que a responsabilidade não é de um ou do outro. Mas a pergunta é: de quem é a primazia da educação? No Código Civil, por sua vez, compete aos pais a escolha do gênero de educação que querem ministrar aos filhos. Não lutamos pela legalização da educação domiciliar, porque não é uma atividade proibida, mas queremos que ela seja regulamentada. E o Estado poderá participar nos supervisionando. Não se trata de tirar a criança da escola, mas oferecer em casa um ambiente mais propício para o aprendizado de acordo com o ritmo de cada um. Na escola, o aluno é um sujeito passivo do conhecimento e muitas vezes não gosta de determinada matéria, porque, para aprender, precisa liberar afetivamente a pessoa que está ensinando. Em casa, tudo isso acontece naturalmente.”
***************************************************************************************************************
Guilherme José Barbosa
pedagogo e consultor educacional
NÃO
“A educação domiciliar rompe um processo de lidar com as diferenças e a pluralidade. Já vivemos em um mundo muito individualizado, em que o contato virtual causa prejuízos para a convivência social. O mundo pede o contrário: que os indivíduos sejam capazes de conviver em grupo, desenvolver habilidades de negociação e mediação e trabalhar em equipe. Estudar em casa não estimula a inclusão e faz com que a criança permaneça entre seus iguais, restringe a diversidade. O contexto da escola contemporânea trabalha com a construção do conhecimento e o conteúdo programático de certa forma cai em desuso. Em vez de apresentá-lo, a gente passa a questioná-lo. São a pergunta e o senso crítico que constroem o conhecimento, e no convívio dos iguais as perguntas são as mesmas. A resposta do professor se confunde com a resposta do pai. São papéis sociais distintos e precisam estar bem marcados.”
presidente da Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned)
SIM
“A Constituição diz que este é um dever do Estado e da família. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação também diz que a responsabilidade não é de um ou do outro. Mas a pergunta é: de quem é a primazia da educação? No Código Civil, por sua vez, compete aos pais a escolha do gênero de educação que querem ministrar aos filhos. Não lutamos pela legalização da educação domiciliar, porque não é uma atividade proibida, mas queremos que ela seja regulamentada. E o Estado poderá participar nos supervisionando. Não se trata de tirar a criança da escola, mas oferecer em casa um ambiente mais propício para o aprendizado de acordo com o ritmo de cada um. Na escola, o aluno é um sujeito passivo do conhecimento e muitas vezes não gosta de determinada matéria, porque, para aprender, precisa liberar afetivamente a pessoa que está ensinando. Em casa, tudo isso acontece naturalmente.”
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Guilherme José Barbosa
pedagogo e consultor educacional
NÃO
“A educação domiciliar rompe um processo de lidar com as diferenças e a pluralidade. Já vivemos em um mundo muito individualizado, em que o contato virtual causa prejuízos para a convivência social. O mundo pede o contrário: que os indivíduos sejam capazes de conviver em grupo, desenvolver habilidades de negociação e mediação e trabalhar em equipe. Estudar em casa não estimula a inclusão e faz com que a criança permaneça entre seus iguais, restringe a diversidade. O contexto da escola contemporânea trabalha com a construção do conhecimento e o conteúdo programático de certa forma cai em desuso. Em vez de apresentá-lo, a gente passa a questioná-lo. São a pergunta e o senso crítico que constroem o conhecimento, e no convívio dos iguais as perguntas são as mesmas. A resposta do professor se confunde com a resposta do pai. São papéis sociais distintos e precisam estar bem marcados.”
Estado de Minas
02/06/2012
Proposta. Tema. Viagens espaciais.
0 Leia o que puder ( não é preciso ler tudo não) e escreva um texto dissertativo argumentativo em que você deverá responder a questão: Será que devemos ir ao espaço?
Use um contra-argumento, logo no segundo parágrafo ( é obrigatório fazer isso).
Aliens podem destruir a humanidade para proteger outras civilizações, dizem
cientistas da Nasa
Do UOL Ciência e
Saúde
"O contato com extraterrestres seria um
benefício ou preocupação para a humanidade? Um cenário de análises" é um
artigo publicado por cientistas da Nasa. No texto, eles defendem que a
crescente emissão de gases do efeito estufa pode mostrar para os ETs que nós
somos uma ameaça em expansão.
Segundo
eles, os aliens podem estar acompanhando as mudanças na atmosfera da Terra como
um indício de que nossa civilização está crescendo sem limites e
podem tomar ações drásticas para que não nos tornemos uma ameaça grave.
Este
é um dos diversos cenários descritos pelos cientistas, que apesar de
acreditarem ser improvável, acham importante preparar a humanidade para o
contato. Eles dividem as hipóteses em três categorias: benéficas, neutras e
alarmantes.
As
boas vão da mera detecção de inteligência extraterrestre, por exemplo, pela
interceptação de comunicação alien, a contato com organismos cooperativos, que
podem ajudar a avançar nossos conhecimentos e resolver problemas globais como a
fome, pobreza e doenças.
Outro
bom resultado seria vencer um grupo de ETs agressores ou até sermos salvos por
outro grupo de aliens. Neste caso, os humanos além de sair com a moral mais
alta pela vitória, ainda poderiam conhecer a tecnologia extraterrestre.
Os
resultados mais desagradáveis surgiriam se eles causassem danos à humanidade,
mesmo que por acidente. Os ETs poderiam chegar para nos comer, escravizar ou
atacar, mas as pessoas poderiam sofrer ainda doenças aliens. Eles poderiam
ainda querer realizar experiências catastróficas que poderiam dizimar uma parte
da galáxia.
Para
reforçar as chances de sobrevivência da humanidade, os pesquisadores pedem
cautela no envio de sinais para o espaço, e em particular, alertam contra
difusão de informação sobre a nossa constituição biológica, o que poderia ser
usado para fabricar armas. Em vez disso, qualquer contato com ETs deve ser
limitado ao discurso matemático "até que tenhamos uma ideia melhor do tipo
de ET que estamos lidando", disseram os autores.
Os
extraterrestres podem ser cautelosos com civilizações que se expandem muito
rapidamente, uma vez que estas podem estar propensos a destruir a vida de
outros à medida que crescem, assim como os seres humanos levaram à extinção
espécies na Terra. No cenário mais extremo, aliens podem optar por destruir a
humanidade para proteger outras civilizações.
Por
isso, eles alertam para a diminuição na emissão de gases do efeito estufa, que
alteram a atmosfera da Terra, que pode ser vista do espaço, e indicaria para os
extraterrestres que nossa civilização está em expansão. Se já temos
motivos suficientes para evitar a emissão dos gases para preservar a vida no
planeta, acabamos de ganhar mais um!
Impedir a exploração humana do espaço é ir contra a
história; somos exploradores por natureza
Já que na semana passada escrevi sobre como alienígenas ultra-avançados seriam indistinguíveis de deuses, hoje queria ir na direção oposta e explorar o nosso papel como exploradores cósmicos. O assunto foi inspirado pela missão sensacional do módulo Dragon, da empresa SpaceX, o grupo privado que na semana passada acoplou pela primeira vez uma cápsula à Estação Espacial Internacional, inaugurando uma nova era na corrida espacial.
Existem duas escolas de pensamento no que tange a nosso papel na exploração espacial. Membros da primeira argumentam que, do ponto de vista de custos e rapidez de resultados, missões robóticas são de longe melhores. Os sucessos até aqui são mesmo notáveis: por exemplo, a exploração dos planetas gigantes do Sistema Solar (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno) pelas missões Voyager 1 e 2 e, mais recentemente, as missões Galileu e Cassini; os veículos de exploração de Marte, guiados por controle remoto daqui da Terra, e a nova missão que deve chegar lá no dia 6 de agosto, com um veículo de exploração bem maior do que seus antecessores. Exemplos não faltam, provando que podemos aprender enviando máquinas ao espaço. É bem mais barato do que enviar humanos e ninguém corre risco de morte.
A segunda escola defende que humanos precisam ir ao espaço. É nossa prerrogativa enquanto espécie inteligente, nosso mandato cósmico. As crianças adoram a ideia de explorar o espaço e muitos se interessam por ciência por causa disso.
Na prática, ter humanos in situ é muito eficiente, pois não só improvisamos como não somos bloqueados por pedras ou sofremos dano em painéis solares e antenas. (Se bem que nosso equipamento pode sofrer esses e outros danos.)
Existem muitas razões para enviar humanos ao espaço, algumas científicas e outras mais românticas. Devemos agora adicionar "dinheiro" entre elas, já que se pode ganhar muito com a exploração privada do espaço -mineração, pesquisa, projetos governamentais, turismo e outros. O grupo SpaceX, por exemplo, tem um contrato de US$ 1,6 bilhão com a Nasa para entregar equipamentos à Estação Espacial Internacional.
Idealmente, a resposta deveria combinar as duas posições: robôs são necessários, pois podem ir aonde não podemos, realizar tarefas para nós impossíveis e nos poupar de riscos desnecessários. Por outro lado, impedir a exploração humana do espaço é ir contra a história da nossa espécie. Somos exploradores por natureza, muitas vezes sem nos importar com os riscos.
Tenho certeza que, se um programa desenvolvesse uma viagem apenas de ida a Marte, não faltariam voluntários dispostos a chegar lá para serem imortalizados pela história da humanidade e para manter nosso expansionismo vivo.
Difícil imaginar que nosso futuro não será no espaço e que, dentro de alguns milhões de anos, não seremos nós os colonizadores de boa parte da galáxia. Pode até ser que encontremos "outros" pelo caminho -se bem que seu silêncio até aqui parece indicar sua raridade ou sua ausência (ou falta de interesse na nossa espécie). Já que, com tecnologias atuais, a viagem até a estrela mais próxima demora uns 100 mil anos, é bom começarmos logo.
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita". Facebook: goo.gl/93dHI
Folha de S.Paulo
http://www.eca.usp.br/njr/voxscientiae/sandra_marao_45.ht tr�_ � a �n @ ' iam dizimar uma parte da galáxia.
Com Ciência - A pesquisa
científica relacionada com o espaço tem sido tradicionalmente conduzida pelos
países desenvolvidos. O sr. acredita que esta área tecnológica pode trazer
benefícios sociais para os países mais pobres?
José Monserrat Filho -
A Era Espacial começou em 4 de outubro de 1957 com o lançamento ao espaço do
primeiro satélite feito pelo homem, o Sputnik, da ex-União Soviética. A
conquista do espaço, portanto, começou há cerca de 44 anos. Neste período, é
ainda relativamente muito pequeno o número de países com capacidade para
realizar atividades espaciais e promover pesquisas científicas e tecnológicas
sobre o espaço. Dá para contar nos dedos os países com capacidade para efetuar
lançamentos espaciais: EUA, Rússia, França, China, Japão, Índia, Israel. O
Brasil talvez venha a ser o próximo, se a terceira tentativa de lançamento do
VLS (Veículo Lançador de Satélites) tiver êxito, este ano ou em 2002. Na
realidade, a maioria absoluta dos lançamentos é feita pelos EUA, França/Europa,
Rússia e China. O número de países que dominam a tecnologia de construir
satélites é um pouco maior, mas não muito; anda em torno de 20, e aí, sim,
entra o Brasil, que já produziu dois satélites de coleta de dados (SCD-1 e
SCD-2), postos em órbita pelo foguete norte-americano Pegasus, da Orbital
Sciences, e um satélite de sensoriamento remoto, em cooperação com a China, o
CBERS (Chinese-Brazilian Earth Resources Satellite), lançado pelo foguete
chinês Langa Marcha. Tem sido uma luta para fazer com que os benefícios do
sensoriamento remoto (observação da Terra), por exemplo, cheguem à legião dos
países em desenvolvimento, que certamente muito ganhariam com isso. Ocorre que
uma das coisas mais difíceis no mundo de hoje é a transferência de tecnologia
espacial. Assim, o homem penetra no espaço deixando atrás de si um planeta
dividido entre um punhado de países que dominam a ciência e a tecnologia
espaciais e os outros, mais de 150, cada vez mais distantes dos novos
conhecimentos e técnicas dessa área estratégica
Com Ciência - Quais seriam as
aplicações mais interessantes deste conhecimento para o Brasil?
Monserrat - Creio que os países
pobres não deixarão de ser pobres enquanto não gozarem dos benefícios das
tecnologias espaciais e enquanto não puderem participar de alguma forma das
pesquisas científicas de ponta, entre elas as que se defrontam com os caminhos
e os enigmas do Universo. As tecnologias espaciais permitem que os países
tenham modernos sistemas de comunicação, conheçam e administrem melhor suas
riquezas em todos os setores, e contem com competentes serviços de previsão do
tempo. O Brasil é um país de dimensões continentais e óbvia vocação espacial.
Impossível mapear, monitorar e aproveitar nosso vasto território, nossa imensa
costa e nosso variadíssimo patrimônio de recursos naturais, de forma eficiente
e sistemática, sem dados de satélite. Já fizemos muito em diferentes áreas das
ciências e das tecnologias espaciais. Mas poderíamos ter feito muito mais.
Formamos muita gente boa durante décadas, algo excepcional, embora depois
tenhamos perdido grande número de especialistas e pesquisadores como resultado
de uma política salarial perversa. Creio que o setor espacial ainda não tem a
prioridade que poderia e deveria ter entre nós. Basta confrontar o Brasil e a
Índia, cujas atividades espaciais começaram juntas, no começo dos anos 60.
Hoje, a Índia está bem adiante de nós.
"A órbita geoestacionária é
um recurso valiosíssimo e limitado. Não há lugar para todo mundo."
http://www.eca.usp.br/njr/voxscientiae/sandra_marao_45.ht tr�_ � a �n @ ' iam dizimar uma parte da galáxia.
Para
reforçar as chances de sobrevivência da humanidade, os pesquisadores pedem
cautela no envio de sinais para o espaço, e em particular, alertam contra
difusão de informação sobre a nossa constituição biológica, o que poderia ser
usado para fabricar armas. Em vez disso, qualquer contato com ETs deve ser
limitado ao discurso matemático "até que tenhamos uma ideia melhor do tipo
de ET que estamos lidando", disseram os autores.
Os
extraterrestres podem ser cautelosos com civilizações que se expandem muito
rapidamente, uma vez que estas podem estar propensos a destruir a vida de
outros à medida que crescem, assim como os seres humanos levaram à extinção
espécies na Terra. No cenário mais extremo, aliens podem optar por destruir a
humanidade para proteger outras civilizações.
Por
isso, eles alertam para a diminuição na emissão de gases do efeito estufa, que
alteram a atmosfera da Terra, que pode ser vista do espaço, e indicaria para os
extraterrestres que nossa civilização está em expansão. Se já temos
motivos suficientes para evitar a emissão dos gases para preservar a vida no
planeta, acabamos de ganhar mais um!
eXERCÍCIO COM TIRAS
Escolham um dos quadrinhos ( podem ser todos ) e explique-os ( em poucas linhas).
http://sergyovitro.blogspot.com.br/2012/06/quadrinhos_03.html
http://sergyovitro.blogspot.com.br/2012/06/quadrinhos_03.html
Proposta da Unifenas 2009
Olhem só esta proposta da Unifenas.
Tem base em um único texto mas é excelente.
http://www.unifenas.br/vestibular/provasanteriores/manha-2010-1tipoa.pdf
Tem base em um único texto mas é excelente.
http://www.unifenas.br/vestibular/provasanteriores/manha-2010-1tipoa.pdf
proposta de redação , tema é a nova classe média
Este é um exercício antigo da Puc Paraná. Ocorre que ainda válido.
Creio que conhecer bem a chamada nova classe média é fundamental. Por isso - e graças à Thaís R que me pediu agora neste domingo - reforcei a proposta com textos interessantes. Um deles até duvida de que exista mesmo a nova classe. Que tal ler um tanto? Mas não é preciso ler tudo ,não. Só leia o possível. PROPOSTA AQUI http://www.cpv.com.br/vestibulares/puc-pr/2011/semestre1/provas/prova_pucpr_2011_sem1_p11.pdf
TEXTO INTERESSANTE, VAI PERDER? " a CLASSE MÉDIA BRASILEIRA É MUNDIAL'' . oLHA QUE SUPER!
http://cps.fgv.br/sites/cps.fgv.br/files/artigo/oc825a.pdf O PRÓXIMO TEXTO É ENORRRME. LEIA UM TRECHO. REPARE QUE O JESSÉ QUESTIONA A CLASSE MÉDIA. ELE ACHA QUE ELA NÃO EXISTE NADA. Em entrevista à Folha de S.Paulo deste domingo (13), o sociólogo Jessé Souza fala e questiona a ascensão de uma "nova classe média" na era Lula. Ele não discorda dessa ascensão. Entretanto, discorda que esses passam a fazer parte de novo estrato social.
Autor de "Os Batalhadores
Brasileiros", Souza afirma que a ascensão social de 30 milhões de
pessoas no governo Lula não produziu uma "nova classe média", mas
uma classe social diferente, que ele chama provocativamente de "batalhadores".
Conceitualmente questionável, pois o que
Souza chama de "batalhadores" é o novo proletariado urbano, que
desde sua pré-existência, o que remonta o início do século 19 sempre foi
"batalhador", como afirma a também socióloga Maria Lúcia de Santana
Braga.
Maria Lúcia diz que há pontos interessantes
nos conceitos apresentados por Jessé Souza. Divergências à parte, vale a pena
ler a íntegra da entrevista que reproduzimos abaixo. Dá um bom e interessane
debate. Boa leitura!
É um
erro falar que existe nova classe média, diz sociólogo
Por Uirá Machado,
na Folha de S.Paulo
Autor do livro "Os Batalhadores
Brasileiros", o sociólogo Jessé Souza afirma que a ascensão social de 30
milhões de pessoas no governo Lula não produziu uma "nova classe
média", mas uma classe social diferente, que ele chama provocativamente
de "batalhadores".
Assim como fizera em seu livro anterior,
Souza procura determinar as características dessa classe por um recorte
diferente do que ele chama de economicista e quantitativo, fugindo tanto de
análises pelo consumo e renda quanto de abordagens marxistas
"unidimensionais".
Abaixo, trechos da entrevista sobre a
classe que, para ele, "parece se constituir, com o resgate social da
ralé, na questão social, econômica e política mais importante do Brasil
contemporâneo".
Folha
- Após lançar o livro "A Ralé Brasileira", o senhor agora publica
"Os Batalhadores Brasileiros". Qual a diferença entre a
"ralé" e os "batalhadores"?
Jessé Souza - Os dois livros se enquadram no projeto de longo prazo de estudar as classes sociais mais importantes do Brasil contemporâneo de maneira não economicista e quantitativa, como sempre acontece.
Quando falo em estudos economicistas, penso
tanto nas descrições estatísticas baseadas em níveis de consumo e renda
quanto nas descrições marxistas fundadas numa leitura unidimensional da
realidade.
Alguns desses estudos são importantes como
ponto de partida descritivo, mas o que nenhum deles oferece é uma leitura
sociocultural da realidade que nos possibilite compreender o principal: a
produção diferencial de seres humanos a partir do pertencimento a classes
sociais distintas.
Ainda que a renda seja um componente
importante do pertencimento de classe, pessoas muitos diferentes podem ter
renda semelhante.
Para que possamos explicar e compreender
uma realidade social complexa é necessário penetrar na dimensão mais
recôndita das motivações profundas do comportamento social e nos dramas,
sonhos, angústias e sofrimentos humanos que elas implicam.
O ganho em compreensão em relação a uma
realidade opaca e complexa é insofismável.
Acredito que, por conta desse tipo de
interesse instruído teórica e metodologicamente, foi possível perceber,
talvez pela primeira vez, a existência do um terço de brasileiros excluídos
como uma única classe, ou seja, pelo estudo dos pressupostos afetivos, morais
e emocionais que explicam a origem, a manutenção e o destino social provável
às pessoas dessa classe específica.
No caso da "ralé", formada pela
ausência dos pressupostos que permitem a incorporação das capacidades
exigidas pela sociedade competitiva moderna, é possível perceber a irmandade
entre pessoas que moram no interior do Piauí ou na periferia de São Paulo
quando a regra é a fragmentação e, portanto, a cegueira da percepção.
É essa cegueira que percebe essa classe de
abandonados sociais apenas no registro espetacularizado e manipulador da
oposição polícia/bandido, aprofundando todos os preconceitos das classes do
privilégio contra esses esquecidos, explorados como mão de obra barata por
esses mesmos privilegiados.
O ganho em termos de uma percepção
alternativa, totalizadora e crítica da realidade social como um todo não é
pequeno.
No caso dos "batalhadores", esse
mesmo ponto de partida nos permitiu, na contramão dos estudos dominantes
sobre esse assunto, perceber tanto o potencial de chance e de oportunidade
que efetivamente existe nessa nova classe que se constitui defronte os nossos
olhos quanto articular a dimensão do sofrimento e dor humanos
sistematicamente silenciados por uma leitura superficial e triunfalista da
realidade.
Folha
- Em seu livro, o senhor questiona a afirmação de que o governo Lula alçou 30
milhões de brasileiros à classe média e diz até que se trata de uma mentira.
Por quê?
Souza - Eu não nego que houve uma efetiva ascensão social de 30 milhões de brasileiros nem que esse fato seja extremamente importante e digno de alegria. O que questiono é a leitura dessa classe como uma classe média.
A classe média é uma das classes dominantes
em sociedades modernas como a brasileira porque é constituída pelo acesso
privilegiado a um recurso escasso de extrema importância: o capital cultural
nas suas mais diversas formas.
Seja sob a forma de capital cultural
técnico, como na "tropa de choque" do capital (advogados, engenheiros,
administradores, economistas etc.), seja pelo capital cultural literário dos
professores, jornalistas, publicitários etc., esse tipo de conhecimento é
fundamental para a reprodução e legitimação tanto do mercado quanto do
Estado.
Consequentemente, tanto a remuneração
quanto o prestígio social atrelados a esse tipo de trabalho - e da condução
de vida que ele proporciona - são consideráveis.
A vida dos "batalhadores" é
completamente outra. Ela é marcada pela ausência dos privilégios de
nascimento que caracterizam as classes médias e altas.
E, quando se fala de "privilégios de nascimento", não se está falando apenas do dinheiro transmitido por herança de sangue nas classes altas. Esses privilégios envolvem também o recurso mais valioso das classes médias, que é o tempo.
Afinal, é necessário muito tempo livre para
incorporar qualquer forma de conhecimento técnico, científico ou
filosófico-literário valioso.
Os batalhadores, em sua esmagadora maioria,
precisam começar a trabalhar cedo e estudam em escolas públicas muitas vezes
de baixa qualidade.
Como lhes faltam tanto o capital cultural
altamente valorizado das classes médias quanto o capital econômico das
classes altas, eles compensam essa falta com extraordinário esforço pessoal,
dupla jornada de trabalho e aceitação de todo tipo de superexploração da mão
de obra.
Essa é uma condução de vida típica das
classes trabalhadoras, daí nossa hipótese de trabalho desenvolvida no livro
que nega e critica o conceito de "nova classe média".
Folha
- Qual o ganho analítico de enxergar os batalhadores como uma classe
diferente da classe média tradicional? E quais as implicações que essa
diferenciação traz para o governo Dilma?
Souza - O ganho é tanto analítico quanto político.
Essa diferenciação permite, em primeiro
lugar, perceber a realidade social como ela é, com suas ambiguidades e
contradições constitutivas.
Depois, como em toda leitura sóbria da
realidade, ela possibilita criticar todo tipo de manipulação política ou de
leitura triunfalista da realidade.
Com relação não apenas ao governo Dilma,
mas em relação ao futuro do Brasil, essa nova classe de trabalhadores, típica
do novo tipo de capitalismo financeiro que logrou se globalizar, parece se
constituir - com o resgate social da ralé - na questão social, econômica e
política mais importante do Brasil contemporâneo.
Para mim, existem duas alternativas
possíveis: a primeira é essa classe ser cooptada pelo discurso e prática
individualista e socialmente irresponsável que caracterizam boa parte das
classes dominantes no Brasil; a segunda alternativa é essa classe assumir um
papel de protagonista e inspirar, pelo seu exemplo social, a efetiva redenção
daquela classe social de humilhados sociais que chamo provocativamente de
ralé.
Muitos dos batalhadores que entrevistamos
vinham, inclusive, da própria ralé, mostrando que as fronteiras entre as
classes são fluidas e que não existem classes condenadas para sempre.
Esse ponto me parece fundamental, já que é
precisamente a existência desses abandonados sociais - e não qualquer tipo de
patrimonialismo advindo de um suposto "mal de origem" português,
como ainda hoje acredita nossa ciência social dominante - o que nos separa
das sociedades mais igualitárias e socialmente mais justas do globo.
Folha
- Quando o senhor afirma que os batalhadores alcançaram um "lugar ao sol
à custa de extraordinário esforço", o senhor não está assumindo a tese
do mérito individual, a qual o senhor habitualmente critica?
Souza - Quando critico a ideologia do mérito individual, não estou negando a extraordinária importância do esforço individual, nem, muito menos, a necessidade de reconhecimento social efetivo para os desempenhos singulares em qualquer área da vida.
Qualquer noção de justiça social moderna
tem que articular responsabilidade social e reconhecimento dos desempenhos
singulares e extraordinários.
Há que proteger tanto a ideia de que somos
responsáveis uns pelos outros quanto estimular o esforço pessoal.
Quando critico a ideia de mérito
individual, é apenas pelo seu uso amesquinhado como ideologia, ou seja, como
falsa percepção da realidade.
É muito diferente quando uma classe inteira
de privilegiados de nascimento, com boas escolas, estimulados em casa o tempo
todo, com tempo livre desde sempre para fazer o que bem entende e dinheiro
para investir em cursos de línguas e pós-graduações valorizadas, chama o
próprio sucesso de mérito individual e ainda acusa as classes que não tiveram
acesso a qualquer desses privilégios sociais de preguiçosos, burros e
culpados pelo próprio fracasso.
A tese do mérito individual que crítico é,
portanto, herdeira do modo como o liberalismo sempre foi recebido no Brasil:
um discurso para legitimar os privilégios de nascimento das classes
abastadas, como se esses privilégios decorressem do esforço apenas de
indivíduos, e não da herança de sangue e de classe.
No estudo dos batalhadores, o que
impressionou foi o extraordinário esforço de superação de condições
efetivamente adversas, todas contribuindo antes ao desânimo e ao desespero do
que ao enfretamento corajoso das condições negativas ao sucesso social e
econômico.
O título do livro foi uma homenagem à luta
cotidiana e silenciosa desses brasileiros.
Este termo "batalhadores"
sinaliza o fato de que o que perfaz o cotidiano dessas pessoas é a necessidade
de "matar um leão por dia" como forma de vida de toda uma classe
social que tem que lutar diariamente contra o peso da própria origem.
Folha
- Nos casos empíricos de seu livro, há operadores de telemarketing, uma
profissão relativamente nova, e feirantes, ocupação bem antiga. Como as duas
funções aparecem juntas para caracterizar tipos de uma nova classe social que
é tão conforme o modelo atual do capitalismo?
Souza - Para responder a esta pergunta, temos que compreender, antes de tudo, ainda que sucintamente, o que significa "modelo atual de capitalismo", de modo a podermos compreender de maneira mais adequada como essa "nova classe trabalhadora" se torna, não só no Brasil, mas em todos os países emergentes, como China e Índia, sua classe suporte, como diria Max Weber, mais típica.
O que hoje é chamado por muitos de
"capitalismo financeiro" representa um movimento que começa nos
anos 80 no mundo e se propaga nos anos 90 entre nós. O pano de fundo desse
movimento eram taxas de lucro decrescentes em nível mundial já havia décadas.
Mas as mudanças não foram apenas nem
principalmente de retórica política. Elas comandaram transformações profundas
tanto na forma de produção de todo tipo de mercadoria quanto no regime de
trabalho.
Ao fim e ao cabo, o conjunto de mudanças
apontou no sentido de um aumento da velocidade de circulação do capital, em
grande medida determinado pelos cortes com gastos de controle e supervisão de
trabalho, que caracterizavam a produção do tipo fordista tradicional, como
existe ainda hoje, por exemplo, em algumas indústrias automobilísticas.
Amplos setores da produção de mercadorias
de todo tipo são realizados agora por trabalhadores em fábricas a céu aberto
ou pequenas unidades familiares que se acreditam, inclusive, empresárias de si
próprias, o que explica, também, que o epíteto de "nova classe
média" tenha caído tão rápido no gosto de todos, inclusive dos próprios
batalhadores.
Na verdade, o capital financeiro que flui
sem qualquer controle por todos os pontos do globo pode, agora, se valorizar
a taxas de lucros e juros sem precedentes também a partir de atividades
realizadas por um exército mundial de trabalhadores - que abundam
precisamente nos países populosos ditos emergentes - sem direitos
trabalhistas, sem passado sindical e sem tradição de lutas políticas, que
muitas vezes não pagam impostos, que trabalham de dez a 14 horas ao dia e
ainda nem sequer precisam de capatazes ou supervisores, porque se acreditam
"livres" e patrões de si mesmos.
Essa mudança abrange não apenas as "novas
atividades", como as da informática, mas também redefinem e transformam,
inclusive, atividades tradicionais, como a dos feirantes.
Folha
- Quais são os valores dessa classe batalhadora?
Souza - Em primeiro lugar, há que ficar bem claro que uma pesquisa sobre valores sociais profundos, como a que realizamos, não pode imaginar que esses valores sejam de fácil acesso e estejam na cabeça das pessoas de modo claro e óbvio.
Ao contrário, como diria Max Weber, a
primeira necessidade dos seres humanos não é a de dizer a verdade - muito
menos a verdade sobre si mesmos - mas sim justificar e legitimar a vida que
realmente levam.
Por conta disso, uma pesquisa de sociologia
crítica é diferente de uma pesquisa meramente quantitativa. Nas pesquisas
quantitativas podemos saber, por exemplo, em quem as pessoas vão votar ou que
sabonete elas usam, precisamente porque suas autoimagens quase nunca estão em
jogo nesse tipo de questão.
Quem se interessa em perceber os estímulos
mais profundos da conduta social, ao contrário, tem que realizar um esforço
interpretativo e hermenêutico que as pesquisas quantitativas comuns não fazem
e perceber os valores na prática cotidiana efetiva da vida das pessoas.
Afinal, valores são aquilo que nos conduzem para um lado e não para outro da vida, mesmo que de modo pré-reflexivo ou inconsciente.
Nós optamos por analisar a vida no trabalho
e na família de nossos informantes, de modo a retirar dessas esferas
fundamentais os impulsos e estímulos práticos - os tais "valores"
na nossa visão - da conduta de vida.
Neste particular, o horizonte valorativo
dos batalhadores pode ser mais bem percebido no confronto com os membros da
ralé.
A principal diferença em relação aos
excluídos e abandonados sociais é a constituição de uma ética articulada do
trabalho duro.
Afinal, não basta querer trabalhar em
qualquer área da vida. É necessário também poder trabalhar, ou seja, ter
logrado incorporar (literalmente "tornar corpo", de modo
pré-reflexivo e automático) os pressupostos emocionais e morais do trabalho
produtivo no mercado competitivo.
O capitalismo atual pressupõe crescente
incorporação de distintas formas de conhecimento e de capital cultural como
porta de entrada em qualquer de seus setores competitivos.
Como esses pressupostos faltam por diversos
motivos à ralé, esta é condenada aos trabalhos braçais ou com mínimo de
conhecimento, servindo, portanto, de mão de obra barata para qualquer serviço
duro, desvalorizado e pesado.
Esse não é o único horizonte dos
batalhadores.
Os batalhadores são quase sempre vindos de
famílias pobres, mas, no entanto, bem estruturadas, com os papéis de pais e
filhos reciprocamente compreendidos, exemplos de perseverança na família e
estímulo consequente - baseado em exemplos concretos - para o estudo e para o
trabalho.
Temos nas famílias dessa classe a
incorporação e internalização efetiva da tríade disciplina, autocontrole e
pensamento prospectivo que sempre está pressuposta tanto em qualquer processo
de aprendizado na escola quanto em qualquer trabalho produtivo no mercado
competitivo.
Sem disciplina e autocontrole é impossível,
por exemplo, concentrar-se na escola --daí que os membros da ralé diziam
repetidamente que "fitavam" o quadro negro por horas sem aprender.
Essa "virtude" não é natural,
como pensa a classe média que universaliza indevidamente às outras classes
suas virtudes e privilégios para depois culpar a vítima do abandono social,
como se o abandono e a miséria fossem uma escolha.
Por outro lado, sem pensamento prospectivo
- ou seja, a visão de que o futuro é mais importante do que o presente - não
existe sequer a possibilidade de condução racional da vida pela
impossibilidade de cálculo e de planejamento e pela prisão no aqui e agora.
No caso dos batalhadores, a incorporação
dessa economia emocional e moral mínima é duramente conquistada, às vezes no
horizonte do aprendizado familiar, às vezes tardiamente, nas mais diversas
formas de socialização religiosa.
Assim, ainda que falte a essa classe o
acesso às formas mais valorizadas de capital cultural --monopólio das
"verdadeiras" classes médias - não lhes falta força de vontade,
perseverança e confiança no futuro, apesar de todas as dificuldades.
Em um contexto minimamente favorável, como
o que vivemos até agora, esse exército de batalhadores se mostra então
disponível e atento à menor possibilidade de trabalho rentável e de melhoria
das condições de vida por meio, por exemplo, do consumo de bens duráveis que
antes lhes eram inatingíveis.
Folha
- Durante as eleições deste ano, alguns debates ganharam fortes contornos
religiosos, como foi o caso da discussão sobre o aborto. A religião é mais
importante para os batalhadores do que para a classe média tradicional?
Souza - O tema da religião é tão importante para essa classe que até dedicamos toda uma parte do livro a esta temática. Além disso, a socialização religiosa dessa classe perpassa boa parte dos textos construídos a partir das análises empíricas.
É preciso cuidado com esse tema, já que ele
pode servir para que se construa uma nuvem de preconceitos contra essa
classe.
É, sem dúvida, correto que as religiões
evangélicas - como, aliás, todas as religiões em alguma medida - exigem o
sacrifício do intelecto, o que, efetivamente, não ajuda no exercício da
tolerância nem no desenvolvimento das capacidades reflexivas dos seres
humanos.
Em troca, no entanto, essas religiões
oferecem o que a sociedade como um todo, o Estado ou mesmo algumas das
famílias menos estruturadas dessa classe jamais deram a eles: confiança em si
mesmos, autoestima, esperança e a força de vontade para vencer as enormes
adversidades da vida sem privilégios de nascimento.
Nesse sentido preciso, tudo leva a crer que
a religião seja efetivamente mais importante para esses setores do que para
as classes médias estabelecidas, ainda que nunca tenhamos feito nenhum estudo
sistemático. Mas me parece uma hipótese plausível.
E não apenas as religiões evangélicas, que
são muito importantes especialmente nos núcleos urbanos. Também a religião
católica, no interior do Nordeste, ainda muito forte e atuante, cumpre uma
função fundamental de baluarte da solidariedade familiar e como fundamento de
uma ética do trabalho em muitos aspectos semelhantes à ética do
protestantismo.
Folha
- Se é verdade que a classe batalhadora não é uma classe média em sentido
tradicional, e se aí vai uma crítica, não é possível ao menos imaginar que os
filhos dos "batalhadores" terão melhores oportunidades que seus
pais? Nesse sentido, a crítica não perderia sua força? Não é possível
imaginar que a ascensão à classe média se dará em "duas etapas"?
Souza - Sem dúvida que isso é possível. Até porque o Brasil é um país singular no sentido de ser extremamente desigual e, ao mesmo tempo, apresentar forte mobilidade social muitas vezes ascendente.
É preciso, no entanto, também levar em
consideração que uma concepção sociocultural das classes sociais implica a
percepção de que as mudanças sociais tendem a preservar aspectos importantes
da história e da tradição das classes sociais envolvidas nessas mudanças.
Como nos constituímos como seres humanos de
modo antes de tudo afetivo e emocional, pela incorporação insensível e
pré-reflexiva daquilo e de quem amamos, somos sempre muito mais parecidos com
nossos pais - ou de quem quer que tenhamos recebido afeto e amor - do que as
vezes muitos imaginam.
Mas o que é importante é que as mudanças
sociais e pessoais são, sim, sempre possíveis. Mais importante ainda é
lembrar que as mudanças sociais jamais acontecem apenas pelo jogo das
variáveis econômicas.
O aprofundamento dos processos de
aprendizado social e político que o Brasil começa a realizar são também
fundamentais para a constituição de uma sociedade em que todos tenham efetiva
condição de participar da competição social com um mínimo de igualdade de
condições, que é o que muitos entre nós desejam.
Folha
- A nova classe batalhadora faz surgir um novo tipo de preconceito no Brasil?
Souza - Sem dúvida. Basta olhar qualquer das revistas que analisam o padrão de consumo dessa classe sob a égide da visão de mundo da classe média estabelecida. Ela aparece sempre como um tanto vulgar e sem o "bom gosto" que caracterizaria os estratos superiores.
Como regra geral, as classes superiores se
veem sempre como as "classes do espírito", da personalidade
refinada e sensível, e percebem as classes baixas como as "classes do
corpo" e, portanto, rudes, primitivas e sem refinamento.
Folha
- Uma das características dos "batalhadores" parece ser a
precariedade da situação econômica e social. De que forma o governo pode
melhorar ou piorar a situação dessa classe?
Souza - Eu acho fundamental o aprofundamento mais consequente tanto da política social --no sentido de que apenas uma pequena ajuda econômica tópica não irá retirar o um terço de brasileiros da exclusão e do abandono-- quanto de políticas de crédito e de estímulo aos batalhadores.
A "parte de baixo" da população
brasileira tem demonstrado sobejamente que consegue transformar qualquer
pequena ajuda em progresso social e econômico significativo que interessa e
beneficia a todos os setores da sociedade inclusive os superiores.
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